•.¸¸.ஐ Luz que clareia meus escuros ஐ Capítulo 2

Seu amor, sua vida

Era dia...
Era sol...
Era céu...
Era dia de sol raiando no céu.

Era tarde...
Era chuva...
Era vento...
Era tarde de chuva de vento.

Era noite...
Era lua...
Era mar...
Era noite de lua no mar.

Era menina...
Era mulher...
Era paixão...
Era menina-mulher apaixonada.

Era anjo...
Era amor...
Era vida...
Era seu anjo, seu amor, sua vida.

A volta para casa foi mais tranquila. Isso significava menos trânsito. A companhia da voz de Alanis também foi ótima.

Antes de ler qualquer coisa, precisava de um banho. Deixei a pasta com o material da poetisa em minha aconchegante biblioteca, meu lugar preferido. Subi rápido as escadas e não me demorei muito. Sem ninguém em casa, desci de calcinha e sutiã mesmo. Passei na geladeira, peguei uma maçã e fui para a biblioteca.

Abri minha caixa de e-mails rapidamente. Nada que me despertasse atenção. Respondi alguns recados que achei que devia e um me deixou chateada. Desmanchar o programa de sábado à noite. A baladinha com a Alysha teria que esperar. Uma pena! Iria sentir falta dela em minha cama e, principalmente, nas minhas pernas de madrugada.

- Só espero que essa nova poetisa valha realmente à pena! Me tirar uma noite de música, dança, beijo e sexo é só para pessoas realmente muito importantes! – falei comigo mesma.

Desliguei o computador, sentei-me confortavelmente em minha cadeira.

- Muito bem, gracinha, mostre-me seus encantos!

Peguei a pasta, abri com cuidado e já me surpreendi pelo desenho que estava por cima.

- Huuuuummmmmmmmm!!! Quem terá sido a bela modelo?! – curiosíssima.

Em minhas mãos, um desenho feito a lápis de uma bela mulher nua, deitada numa praia. Pena que não se via o rosto dela.

- Menos mal! Assim, não vou precisar estampar esse desenho no jornal solicitando a presença dessa mulher! – deixei o desenho sobre a mesa rindo com meus pensamentos.

Encontrei uma encadernação com uma pré-capa desenhada também à mão. Um belo pergaminho, uma pena e o nome do livro “Versos Meus”. Admirei a caligrafia. Estilo clássico. Comecei a criar certa expectativa pela tal poetisa. Passei os dedos pelas letras e sorri. Senti uma vibração muito boa daquele projeto de livro que tinha em mãos.

Mais embaixo da capa, escrevia-se o nome dela. A mesma caligrafia encantadora. E o nome mais ainda: Elísia de Bourbon. Fiquei alguns minutos pensando nesse nome e imaginando a dona. Ele bem que combinava com o desenho da mulher, mas por algum motivo, soube que aquele desenho não era de Elísia. Menos de meia hora com aquela pasta em mãos, e a poetisa já tinha um nome em minha mente.

Fiquei satisfeita com a imagem formada por minha imaginação. Tomei o cuidado, porém, de não imaginar nenhum rosto. Sobre quem seria Elísia, preferi deixar para descobrir nos subtextos ou nas entrelinhas dos poemas dela.

Virei a capa. No local da dedicatória um espaço em branco. Fiquei intrigada, mas achei melhor passar logo aos poemas. Afinal, minha equipe havia pedido urgência na avaliação daquela obra.

A folha que seria uma espécie de folha de rosto me chamou atenção pela frase escolhida. “Há momentos em que é preciso pôr em palavras tudo aquilo que mantemos dentro de nós”. Concordei de imediato! Pretensiosamente, achei até que havia sido escrito para mim.

Tornei-me editora de livros por paixão e vício. O sonho de meu pai era que fizesse Medicina, como ele e minha mãe. Minha mãe, a princípio não se mostrou muito feliz com minha decisão de estudar sobre aquilo que mais gostava: literatura. Quando, porém, passei a me destacar como crítica literária e editora, ela ficou orgulhosa e terminou por me confessar estar muito feliz com minha profissão.

Numa dessas conversas gostosas entre mãe e filha, raras entre nós duas, ela acabou me contando que foi apaixonada por um poeta antes de conhecer meu pai. Ela não disse quem e eu não perguntei, porque, provavelmente, eu conheceria. Tentei imaginar o que ela diria se soubesse que fui seduzida para o mundo da literatura, ainda adolescente, por uma poetisa grega.

Preferi não dizer nada sobre isso e apenas comentei sobre um novo livro que acabava de passar por minhas mãos. Uma seleção de poesias gregas belíssimas e a maioria quase desconhecidas. Ela ficou interessada e prometi mandar um exemplar, havia poucos dias estava nas livrarias e despertando interesse de leitores.

Mas uma coisa que nem minha mãe nem outras pessoas sabiam era que eu também escrevia. Ou, que eu tentava escrever. E escrevo mesmo por necessidade. Preciso escrever ou me sufoco. As narrativas não dariam conta de meus momentos catárticos, por isso a predileção pela poesia.

Deixei minhas lembranças com minha mãe de lado e concentrei-me no material em minhas mãos, tentando controlar a ansiedade que havia se instalado em mim.

Passei ao primeiro poema irrequieta e gostei da fonte escolhida para digitação. Era um tipo de caligrafia cursiva.


Anonimato

As mãos estão sobrecarregadas
Papéis, papéis e mais papéis
Sedentos de versos, estrofes, arte...

A pena movimenta-se quase sozinha
Mecanicamente desenhando letras
Que tomam forma, ganham vida,
Mexem com a imaginação alheia

A tua face de leitor oculto me fascina
Tua crítica me deixa ansiosa
Preciso saber teu veredicto
Os olhos fixos, perturbados,
A adrenalina a mil
Quase tendo um orgasmo.

Manifesta-te, fala, grita, geme
Anuncia-te, quero uma palavra tua
Minhas mãos tremem,
Meu coração palpita
E minha alma, viciada em palavras,
Sede aos encantos do teu anonimato

Tens plenos poderes para decidir
Se irás ou não ler o próximo poema
O simples virar de páginas
Mexe com o meu metabolismo.

A cada verso que irás ler ou não,
Estará um pouco de minhas almas,
De minhas faces ocultas
Que, talvez, irás descobrir.
A partir de agora, a decisão é tua!

- Você me pegou mesmo de jeito, ma chérie! Não desgrudo desse livro até descobri-la por completo – tive necessidade de dizer isso em voz alta, como se ela pudesse ouvir.

1 comentários:



Fil. disse...

ma cherie, este poeta que vos fala também quer te conhecer até o âmago
^^