•.¸¸.ஐ Minha despedida

Estou cansada de estar sozinha. Estou cansada de coisas divididas em certo e errado. Estou cansada de religião. Estou cansada de mim. Se eu não fosse tão covarde, jogaria tudo para o alto e sairia viajando pelo mundo até encontrar aquele lugar que eu sonho em chamar de lar. Eu sei que o lar é onde o coração está e que ele pode ser uma pessoa. E eu confesso que pensei ter encontrado meu lar, mas eu sinto que o perdi.

E aonde está o meu coração agora? Eu sinceramente não sei. Eu queria poder respirar e me sinto sufocada. Eu queria parar de doer. Eu queria um abraço e alguém pra me cuidar e dizer que vai ficar tudo bem nos dias que eu vejo tudo cinza. Mas não tem ninguém. Eu queria não ser tão responsável e faltar ao trabalho só para ir ver o mar. Eu queria viver. Não pela metade, não incompleta, não com sorrisos que não têm sentido pra mim.

Cansei de ter a solidão como melhor amiga e de ser triste em essência. Sei que já disfarcei melhor. Sei também que a verdade talvez seja o meu princípio falho. Mas o que eu conheço da verdade? Eu já vivi realmente? Eu tenho muito mais perguntas em mim do que respostas. Sempre fui assim, só mudaram as interrogações. Poucas pessoas me olham nos olhos. Não fico chateada com isso. Por vezes, eu mesma não me sustento olhar. Tenho interrogações demais e transbordo, sempre.

Por que viver me dói tanto? Eu já pensei em morrer. Já desejei isso ardentemente. Até que me convenci de que um caixão e um túmulo não me resolveriam os conflitos. E eu não acredito que tenha só esta vida, sei que já vive e voltei. Sei que voltarei novamente. Mas preciso crescer agora. Ainda que esse mundo me doa. Ainda que a doutrina pregada me fira no íntimo.

Eu sinto falta de um mundo que não existe. Sinto falta do meu eu que não mais existe. Sinto falta de carinho, de abraço e sossego. Sinto falta de ser entendida, de um chão debaixo dos meus pés e de um rumo diante dos meus olhos. Eu sinto falta de amor, do meu jardim, das roseiras da minha avó e do pé de cajá.

Eu estou cansada de fazer tudo mecanicamente. Acordar, estudar, trabalhar, comer, dormir. Estou cansada de apenas existir em dias sem sentido. Estou cansada de vazio, de distâncias, de não-presenças ao meu lado. Estou cansada de não pertencer ao meu tempo. Estou cansada.

Estou cansada dos tribunais diários, de ser um peso na vida de algumas pessoas. Não digo que eu estou certa e tudo no mundo está errado. Até porque, nada é uma coisa só, pelo menos pra mim. Mas eu ainda queria certa dose de coragem, certa dose de alegria. E ainda queira viver num mundo diferente. O meu consolo nisso tudo é o amor. E eu sou filha do amor, não de deus, nem do diabo. E o amor é livre. E até hoje eu nunca disse um 'eu te amo' que não fosse verdadeiro, disso não me podem culpar, ainda que crucifiquem o meu amor.

Mas agora, eu estou cansada. Cansada e sozinha.

Obrigada a tod@s pelo carinho com que sempre me leram. Mas agora eu preciso partir daqui por uns tempos... Não se volto cedo ou se não volto mais...
Beijos e borboleteios

•.¸¸.ஐ Porto solidão

Os pés tocam o mar
Mas o pensamento, ah...
O pensamento navega pelo oceano.

A maresia anuvia a razão
É quando o coração fala
E a alma vagueia
Onde está o porto onde ela ancorava?

Os dedos dos pés seguram a areia
As asas da alma, a esperança do encontro
Vejo outros barcos passarem
Vejo outros portos chegarem
Mas nenhum me parece seguro.

A luz de um foral distante
Lembra-me de seus olhos
E ainda que me doa a saudade
Eu continuo seguindo...

•.¸¸.ஐ Carta de lágrimas

Eu já não sei respirar quando estou longe de você. Juro que me falta o ar, a paixão bateu. Você é aquela mulher escondida nos versos de tantos poemas. Deste lado do rio eu posso ver tudo o que é seu. Delicadeza e mistério que nem você percebeu. Quero chamar sua atenção com as rimas das minhas estrofes.

Leio o seu nome nas águas do amor que correm a deslizar. Se eu não consigo dizer eu só posso escrever cartas com o olhar. Se eu arrisco a dizer, agora que estou longe de você, é porque deste lado do rio cada coisa é mais difícil se minhas mãos escorrem distantes de você.

Eu olho para o outro lado, onde você está, e minhas lágrimas escrevem o seu nome sobre a água do rio e suplicam para que o seu coração acolha o meu. Pra mim, você é não uma primavera, nem uma noite, é a minha vida e todas as estações. E eu fecho e abro os olhos e busco o seu sorriso para seguir.

Eu amo você.

•.¸¸.ஐ Dentro*

Sentou no chão do quarto e bateu a porta, como se aquele escândalo pudesse aliviar a dor que sentia. Fisicamente não estava machucada, era a alma que doía. Lancinante. Recolheu-se abraçada às pernas, cabeça baixa, olhos secos. O eco do ‘eu te amo’ recém-pronunciado só feria ainda mais. Ela não queria aquela frase e não podia dizer que também amava. Amava? Não sei, não sabia.

Foi só quando se sentiu morada do silêncio e nada mais ouvia, nem o passado, é que duas gotas lacrimejaram compridas pelo rosto, pelo chão. Escolhera magoar a si mesma por medo de ferir quem a amava quase incondicionalmente, mesmo que ela não se sentisse digna daquele amor. As gotas transformaram-se soluços e ela se sacudia como se pudesse se inventar de novo. Poderia? Não sei, não sabia.

No auge do choro, vieram as notas da música que ouvira no dia anterior. “Me escondi Pra não ter que ver você dizer Coisas que eu não merecia ouvir Era você ou eu”. Era a música dela, feita pra ela. Deixou as pernas se esticarem e largou os braços ao redor do corpo. Sentia-se incapaz, perdida.

Escolhi O pior lugar pra me esconder Me tranquei por dentro de você E não sei mais sair”. No íntimo, vinha nascendo, há tempos, uma certeza que se cristalizava. As lágrimas rareavam e ela fez força para levantar. De pé, para aonde seguir? Não sei, não sabia.

Pela rua penso em ti Volto em casa, penso em ti No trabalho sem querer Quando vejo tô pensando em você E surgi de onde eu não imaginei E aprendi que eu nunca sei Enganar meu coração”. A verdade com a qual ela não sabia lidar era que amava uma pessoa. Não, não era paixão. Não, não era um gostar intenso. E foi preciso se afastar pra ver o que outros já viam, já sabiam, menos ela (?).

Sim, ela amava uma pessoa. Fato aceito, não sabia o que fazer com tão grande sentimento. Não tinha um jarro, um pote, uma nécessaire onde pudesse guardar aquele amor. Mas amor não se guarda, ela sabia. Mas estava casada com alguém que a amava quase incondicionalmente, a quem ela jurara amar eternamente, a quem não podia, ou, não queria, de forma alguma machucar.

Escrevi frases soltas pelo chão Esperei você dormir Pra jurar minha paixão”. Trancou a porta antes de ouvir a primeira batida e a voz que lhe embalava os sonhos e não todos os desejos. Não respondeu. Ainda não tinha resposta. Abriu a gaveta de suas coisas e tirou de lá um bloco de folhas e caneta.

Clareou algumas palavras em pensamento antes de ferir a brancura do papel. Com quem lhe batia à porta e lhe chamava pelo nome e por todos os apelidos que lhe tinha carinhosamente posto, nunca se sentia sozinha. Com o motivo das lágrimas em seu rosto, não sabia esperar e procurava um futuro, sabíamos, que não podia lhe dar. Ainda assim, todo amor que dentro dela pode haver, insistia em bipartir em medidas desiguais.

Tentou escrever o futuro que queria (ou assim pensava que). Ela e a outra, num ambiente de palavras simples e amor calmo, com a verdade às claras. O quadro era lindo, mas irreal. Rasgou a folha até que não sobrasse uma frase inteira e cedeu às batidas na porta do quarto. Fitou demoradamente aqueles olhos castanhos fartos de brilho e de amor e se lançou ao encontro da mulher que a esperava.
- Eu também te amo!


*A música a que se refere este texto é Dentro, de Ana Carolina.