
Sabe aquela sensação que se tem de que alguma coisa foi feita para você? Foi isso que ela sentiu. Liah entrou e logo foi atendida por uma senhora simpática. A bolsa era até mais barata do que ela imaginava. Tinha o dinheiro na carteira. A bolsa era dela.
Saiu dali e foi direto para casa. Chegou e ficou admirando a bolsa, esperando que o outro dia chegasse logo para que ela pudesse usar o novo acessório. E assim fez. Vestiu a calça que mais gostava, uma blusa neutra e deixou o colorido para a bolsa. Ela saiu de casa e já no ponto de ônibus, sentiu que as pessoas a olhavam. Para Liah não, para a bolsa.
No caminho para o trabalho foi a mesma coisa. A bolsa sempre chamando a atenção por onde passava. Liah podia imaginar o sorriso orgulhoso daquele pedaço de pano costurado e modelado em formato de bolsa. O que ela mais gostava eram os dois lacinhos de cetim nas laterais e o colorido, claro. Todo mundo olhava a bolsa de Liah, mas ninguém falava nada.
Talvez as pessoas não quisessem admitir que estivessem olhando. Talvez não quisessem falar mesmo. Quando chegou ao seu local de trabalho, a chefe dela ficou visivelmente encantada com a bolsa. Os olhos perguntavam: “onde será que ela comprou?”. A boca, porém, não pronunciou nenhuma palavra além do “bom dia” habitual.
Liah trabalhou normalmente durante o dia, mas deixou a bolsa ficar se exibindo em cima da mesa. No elevador, em seu horário de saída, as pessoas estavam coincidentemente falando de bolsas. Não da bolsa de Liah, mas de bolsas em geral, dessas grandes que estão na moda. Algumas mulheres falavam alguma coisa quando Liah e sua bolsa entraram cortando os dizeres ao meio. E todos permaneceram em silêncio até o térreo. Em silêncio e olhando para a bolsa colorida que quase tinha vida própria junto a sua dona.
As pessoas esperaram que ela saísse do elevador para depois saírem. E lá se foram Liah e sua bolsa orgulhosa desfilar pelas ruas até o ponto de ônibus. A moça cantarolava uma música que combinava com o colorido da bolsa. Ambas sorriam. As pessoas passavam por elas e ficavam curiosas para saber de onde vinham os sorrisos. Não descobriam.
Liah e a bolsa chegaram ao ponto de ônibus e receberam olhares atentos vindos de todos os que estavam ali. Alguém podia até comentar alguma coisa, mas teria o cuidado para que as duas não ouvissem.
Naquele dia, o ônibus demorou mais a passar. Talvez quisesse dar mais tempo para que as pessoas pudessem admirar a bolsa. Talvez estivesse preso no trânsito mesmo. Liah tentava se distrair olhando para o céu. As pessoas não entendiam o que ela tanto via. Estava olhando para a lua. Era a primeira noite de Lua cheia. “Perfeita!”.
Distraída, enquanto a bolsa continuava a se exibir, Liah não viu quando uma moça se aproximou.
- Ei.
Ela se assustou.
- Desculpa, não queria assustar você.
- Tudo bem, eu estava distraída.
- Tem muito tempo que você está aqui?
- Mais ou menos.
- Você viu se o Dom Bosco – Ipiranga já passou? - perguntou a moça muito baixinho.
Liah não entendeu e pediu que a moça repetisse a pergunta duas vezes até conseguir ouvir.
- Ah! Esse ainda não passou. Pelo menos não enquanto eu estava aqui.
- Hum... Obrigada.
- De nada.
Não demorou nem mais meio minuto e o ônibus de Liah finalmente chegou. Como a moça estava ao seu lado, ela resolveu se despedir.
- Tchau.
- Tchau... E que bolsa linda a sua.
Foi a vez de Liah agradecer e sorrir.
- Obrigada.
E finalmente foram para casa Liah e a bolsa orgulhosa.
14 comentários:
a influencia da bolsa na vida de uma mulher, bjus linda
essa moça faria um belo par com minha gata Mel que está tendo um caso com a mochila da minha namorada.Ela sente uma forte atração pelo cheiro dela provavelmente.Aliás,cheiros sempre dão boas histórias também.Beijos,inspiradíssima Bru.
Aaahh a bolsa e a mulher...
Ainda a dias adquiri uma grenã...e foi e está sendo uma relação intensa.
Beijos
E como uma simples bolsa pode mudar um comportamento... e desviar atenções.
Vim te deixar o Selinho Blogamigo, está na lateral e gostaria q vc aceitasse.
bjos e ótimo fds!
Belíssimo glog e textos também.
Desenham-se corpos Inquietos
sem rostos(...)
invisíveis.
Improvisam a alma
Enriquecem a valsa
mergulham despercebidas
Sombras sem fendas
gritam no deserto povoado
expectativa de vida (...)
partes de nós.
Tem selinho la pra vc.
beijooo.
E como uma bolsa pode dar tanto que falar né???
Um fim de semana prateado...
Bjinho
SOL
Nós e elas... Coisa incompreensível, porém imprescindível: mulheres e bolsas. Adorei o texto, Bru, inteligente e gostoso como sempre! ^^
Beeeijo!
É querida nem sempre as belezas são vistas por todos, mas sempre tem um olhar especial que vê a beleza....Por isso não podemos nunca desanimar.
Para toda bolsa bela tem um belo olhar.
E as vezes até onde não tem tanta beleza vem um olhar e deixa florido e com fitas de cetim brilhantes.
abraços
Obriga pelos elogios, por ter gostado do meu cantinho...
Amei sua visita!
Seu texto está lindo! Já falei algo sobre o que pequenas coisas provocam em nosso cotidiano...
Detalhes tão pequenos, e que nos enchem de alegria, felicidade...
Basta saber aproveitar... nem que seja desfilar com uma bolda linda!
Ser feliz é isso, curtir a simplicidade!
Beijos e carinhos
te vim visitar. A tua escrita é bela e profunda...bem fenomelógica e primordial...ainda não acabei de ler teu romance...o tempo é safado.
beijinho,
véu de maya
'FELIZ DIA INTERNACIONAL DA MULHER'
Tem presente lá pra vc amiga.
beijooo.
SaBE QUE JÁ OBTIVE RELATO SEMELHANTE COM RELAÇÃO ÀS CAMISETAS QUE PINTO.
Sabe que já tive obtive relato semelhante com relação às camisetas que pinto? Ao usar uma das camisetas ela percebeu nitidamente o quanto as pessoas olhavam tentando entender aquela pintura.
Cadinho RoCo
Eu não vivo sem bolsa, me sinto nua sem elas, rs!
E agora fiquei doida de vontade de compra ruma assim, de pano, bem colorida pra sair desfilando e sorrindo, minha bolsa e eu, pelas ruas do meu ceará, rs!
Beijo
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