
Era noite... Estava deitada em minha cama, à luz da lua, contemplando o brilho das estrelas. Enquanto pairava sobre minha alma uma escuridão tempestuosa e densa, minha face permanecia inerte diante àquela beleza esplendorosa.
Mas por dentro, meu espírito estava em chamas, um turbilhão de emoções e sentimentos me invadiam o ser... Tudo tão confuso e embaraçoso que eu já não podia ver mais nada, apenas escuridão.
Há muito me sentia indiferente, desconcentrada e nos mais diferentes lugares e situações, me via pensando em pessoas e atos que nunca antes passaram pela minha cabeça... Mas uma, apenas uma pessoa chamava minha atenção...
A única que ficava todas as vezes, a única que mexia em minhas certezas: uma mulher... Pele clara, cabelos loiros como os raios de Sol, alta, rosto atraente, traços marcantes... É de todas a mais bela. Ouso dizer, Filha da Vênus!
Seu olhar... Sensual, penetrante, pegou-me desprevenida. Não pude deixar de fitá-la, notá-la olhando para mim. Ah! Jamais vira olhos assim... Tão intensos e atraentes. Senti-me excitada. E quando dei por mim, estávamos sozinhas, todos os que ali passavam haviam desaparecido.
Nesse momento, desejei-a mais que a própria vida, e comecei a caminhar para ela. Aproximava-me lentamente, olhares fixos, como se naquele silêncio nossas almas estivessem se encontrado.
Vi que os olhos dela ardiam de desejo e sabia que os meus correspondiam. Quando senti o seu perfume, pura rosa, delirei. Deixei que seu olhar me penetrasse, que chegasse a minha alma e me senti nua. Num instante, estava em seus braços, seus beijos.
Sorrindo, entreguei-me àquela mulher da qual eu não sabia quase nada, apenas o nome. Nossos corpos pareciam em chamas e nossas almas num balé celestial de tão sincronizado, tornaram-se uma só!
Por horas nos sentimos flutuando, chegamos ao paraíso e ele nos pertencia. Éramos as donas do mundo, das vontades e das verdades, do prazer e da felicidade. Foram momentos de êxtase total. Nossos corpos estavam exaustos e satisfeitos. Os olhos dela eram um oceano de sentimentos onde eu mergulhava e ia às profundezas, sem medo...
Deitamo-nos lado a lado, abraçadas. Nossos corpos nus reluziam à luz da lua, a brisa suave da noite nos envolvia e o fino orvalho que entrava pela janela deixava úmida nossa carne. Permite que ela me tomasse para si. Um longo e gostoso silêncio permanecia entre nós, no qual nossas almas juravam amor eterno. Assim adormecemos.
Ao amanhecer, estava só. Minha cama coberta de rosas escarlates como sangue e eu, envolvida por um fino vestido de seda branca. Ao querer levantar, fui advertida por uma voz bem conhecida. Ela estava ali, pintando um quadro. Quando terminou me chamou para ver. Era um retrato meu, como estava na cama. Dei-lhe um longo e delicioso beijo e deixei que partisse, mas fiquei com o quadro.
Agora, estou deitada em minha cama olhando a lua, as estrelas e buscando os olhos dela. Uso o mesmo vestido branco e continuo cercada pelas mesmas rosas que, não sei explicar como, não murcharam. A porta se abre, é o meu Anjo de volta. Levanto-me sorrindo enquanto ela vem ao meu encontro.
Toco sua face suavemente e dou-lhe um beijo de boas-vindas. Nossos corpos querem se redescobrir, viajar aos lugares longínquos que visitamos e revisitar o paraíso em nossa eterna noite do prazer, nossa noite de luar.