Mostrando postagens com marcador borboleta. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador borboleta. Mostrar todas as postagens

•.¸¸.ஐ Aladas

Tens na pele as cores das flores que voam
teu aroma são asas
tens letras nas esquinas das pernas
onde desejo escrever um poema.

Tens nos lábios o coração
num dia quente
despertas nos meus a sede.
Leio um chamado em teus olhos,
não resisto a eles.
E anseio pousar em teus seios, na rosa
nos lábios para sentir teu pulsar.

Repousas num canto das estrelas
num canteiro de flores duradouras
onde te espero e te desejo...
Dar-te-ia rosas em ninhos de borboletas!

Queria aninhar-me em tua cabeleira;
Voar junto da tua imaginação.
Em ti carregas a paixão
levemente como as pétalas que perfumam
e deixas ao ar as letras para que eu te escreva
a ternura quase impossível
de quem carrega os sonhos dentro dum beijo

¨`*•.¸¸.ஐ.¸.•*•.¸¸..¸.•*•.¸¸.ஐ.¸¸.•*¨

Um poema de asas e sentires... Para ela!

•.¸¸.ஐ Borboleteares

Abro os poros às margens férteis do tempo novo. Não há sombras neste jardim onde acordam entoações de primavera – ainda que não seja essa a estação do lado de fora de mim. Procuro-me no fundo de manhãs a cores, reinvento-me na matriz das borboletas. Desprendo os anseios na vertigem da bruma, sou pedaços de vento desenhando voos ao redor de sua flor.

Borboleteio em sua janela, percorro as ondas de seus desejos e me perco a decifrar sensações no relevo de seus lençóis, onde os mapas paralelos se entrecruzam em regatos íntimos.

E quando as flores morrerem em madrugadas de poesia, almejo renascer sempre depois do prazer pleno, gozando a liberdade de ser borboleta, quando tudo posso, tudo quero, preciso e aceito.

E então meu voo será sem amanhã, e a vida não estará contida nos meus olhos e peito, mas borboleteará descompromissada em sua alma, desesperadamente infinita como o azul do firmamento.

•.¸¸.ஐ Colheita

Era uma tarde sem nexo de uma terça-feira besta. Ônibus parados, internet lenta e aquele calor modorrento fazendo com que todas as cidades do mundo sejam um pouco irmãs de Macondo. Até mesmo o sorriso fazia força para nascer em rostos enrugados, poros buscando sombras de pele.

Foi então que me veio o livro, o perfume, o olhar. Vestida de boneca, a brisa se aproximando a cada passo, era como se o lume dos olhos dela pudesse refrescar meu sentir. E podia. Grãos de vento, de sombra, de água. Gotas de letras, de amor, dela. Deliciosamente dela.

Versos como gotas de delicadezas pinçadas da grande narrativa da vida ou pérolas prontas a florearem um romance. Quem sabe o nosso? Em cada poema, ela constrói uma imagem com palavras. De onde elas vieram? Por certo que as viu antes de escrevê-las... E as letras dela me levam pela mão, pelos vãos, pelas entrelinhas, reticências, silêncios.

E tudo deságua nela. E tudo venta dela. E tudo emana com uma força-delicadeza que me enternece, feito um toque de dedos de nuvem. E as marcas vão surgindo, sutis, se eternizando, vêm voando e fazendo ninho em meu coração.

Ah, ela que diz ser do barro do medo e do desejo; ela que é revirada pelas mãos do destino e o sopro do vento; ela que borboleteia diante de meus olhos fascinados, servis; ela ainda provoca, atenta e diz ser mais dela quando minha. Minha? E eu me resumo no querer fazê-la chover.

Espero-a em sobressalto, com todas as chamas do desejo acesas, tremente ao vento quente do virar de páginas. Espero que ela se volte para o meu deslumbramento feito de amor e de letras derramadas nestas linhas e me imobilize sobre seu corpo em movimento.

Ao fim da colheita, a sensação de que presenteia-me com um sopro bálsamo para um dia que seria qualquer e um pedaço da alma, desesperadamente infinita como o azul do céu.

•.¸¸.ஐ Sensuelle

As gotas finas que caíam das nuvens já cansadas de tanto chover a acompanhavam pelas ruas. Os cabelos soltos grudavam em seu corpo, tão molhados estavam. O mesmo acontecia com seu vestido. Lilás. Doce. De saia um pouco rodada e renda. Com direito a falsos botões na frente. Digo falsos porque não abriam. E botão que não abre que pode ser senão falso?

Passos médios, sem pressa. Pés descalços, sandálias na mão. Em seu pensamento, tinha a imagem de si diante do espelho. Lembrou-se da sensação desconcertante de que apenas parte dela estava naquele reflexo, como se fosse a pintura de uma meia Lua feita por alguém que nunca vira uma Lua cheia.

Pelo adiantado da hora, havia pouca gente pelas ruas. Ainda assim, assovios, dizeres e sorrisinhos pelo caminho. Não foram, porém, ouvidos ou percebidos. O silêncio dela era intransponível. Estava já a poucos metros do mar e sentia dele o perfume mais intenso. Amante sedutor. Chegou ao calçadão e levantou os olhos. As nuvens se desmanchavam e luzes distantes eram já vistas.

Deu alguns passos, talvez insegura. Era uma noite de segunda-feira. Não havia ninguém por perto de Helena. Olhou para frente e para trás. Medo ela não tinha. Era assim: surgida pela afirmação de sua própria negação. A moça acreditava ser capaz de se defender sozinha em qualquer situação. Não sei se era. Mas não teria que provar nada a ninguém. Não naquela noite. Não nestas linhas.

E sendo, caminhava, no mesmo ritmo, compassado, meio que brincando, meio que rebolando. Nada forçado, era natural. Demorou a reparar na criatura que, inusitadamente, acompanhava-lhe o andar. Ao lado de Helena, uma borboleta amarela esvoaçava, disposta a seguir da moça o caminho.

Aquela presença pequena e alada a fez sorrir entre os passos. Era estranho o que a jovem sentia. Uma sensação de aconchego ao lado da borboleta. Como se tivessem sempre esperado por aquele caminho, aquele encontro.

Mais alguns passos e Helena não sentiu mais aquele amarelo-vivo ao seu lado. Voltou os olhos para trás e notou um borboletear que tentava lhe chamar a atenção. Assim que a moça tinha os olhos fixos naquele voo circular, o ser alado pôs-se a voar em direção ao mar, indicando à outra que a seguisse. E ela foi.

Pisou na areia devagar. Só então notou aquela claridade familiar, que tanto amava. Voltou os olhos ao céu e se deparou com a Lua cheia. A maior que já vira. Podia senti-la tão perto... Mais um pouquinho e tocaria naquela face alva pela qual era apaixonada. Contudo, ao invés de levantar os pés, sentou-se. Ao lado dela, numa pequena elevação na areia, a borboleta descansou as asas.

Permaneceram assim, lado a lado. Até que a sensualidade de um esbarrar suave despertou Helena. Aquele tocar de minúsculos pés avançava deixando um rastro de ternura pela pele macia dela. Logo subiu até o joelho, passou às coxas. Alcançou o abdômen, os seios, colo, pescoço. Roçou-lhe os lábios e, com a licença dos cabelos, descansou pousada nas costas, bem no meio. A moça se sentiu inteira abraçada pela borboleta.

Naquele instante, o desejo de serem um único ser foi tão forte que a Lua intercedeu em favor das duas. Os corações bateram num ritmo só. As respirações se igualaram. A moça diminuiu e a borboleta cresceu. Até que houve harmonia. Helena abriu os olhos. Tinham nova cor e novo brilho. Âmbar.

Em suas costas, onde o pequeno ser pousara, um majestoso par de asas se mostrava imponente. Multicolorido, como o interior da moça – vocês não sabiam, mas ela guardava em si o arco-íris. Levantou-se com uma graciosidade desconhecida e sentiu o vento. Balançou as asas no mesmo ritmo. Não demorou a alcançar o céu.

O pouso de volta à areia foi delicado. Tocou primeiro com a ponta dos pés, feito bailarina alada, e foi baixando, devagar, até estar firme para soltar o peso do corpo. Foi então que, ao olhar para a Lua cheia, viu o reflexo de si mesma. No espelho de Helena, seu reflexo se mostrava nítido, único, como se feito por alguém que nunca conhecera outra Lua senão aquela.

•.¸¸.ஐ Amanheci outono


Sou parte delírio e tanta parte de espanto. Porque é o avesso de suave este mundo que me contém, que exubera ocorrências dúbias cujas manifestações se prestam a um aniquilamento gradativo das minhas maiores certezas; chamo o tempo ora cura, ora culpado das sobras a que me reduzo quando investigo-me o íntimo, desajustada.

E me deito nas sombras, e me embalo nos ventos, nas luas, plêiades, marés e vazantes. Mulher urdida em fina teia. Sujeito, singular, desejante. Emparedada no cimento da palavra, da linguagem mínima, mímica. Todos os dias são dias de se lembrar e de se esquecer - como é difícil manter o tempo sem memória de mim! As horas são todas filhas das dúvidas e dos medos que as povoam, crescem ligeiras regadas pelas inquietações subterrâneas que me alarmam os sentidos.

As pétalas do que tão pouco sei, do que tão pouco sou, do que tampouco... Hoje eu só queria encostar-me a um travesseiro de coisa nenhuma e ali dormir por semanas; perder-me do que é vão e do que é preciso; fechar os olhos ao importante e ao fútil; deixar que morra em mim tudo aquilo que não posso compreender.

Se sou verso inacabado, imperfeito, ao que me sabe, verso confessado rasgando o véu da boca, expõe meu grito. Da arte do barro, flor de lamaçal desabrochando lenta. Imperfeita e milenar reconstrução diária, metamorfose alada, ávida, voraz a consumir eterna o que alimenta o ciclo da ilusão. Queria amputar dos meus desejos os seus impossíveis, livrá-los do meu peso, fazer com que se tornassem tão leves que desaparecessem, etéreos, feito sonhos. E acordar talvez vazia, mas sem pressa de viver.